sábado, 11 de dezembro de 2010
Um microfone para Elzinha...
Já era fim de tarde, quando Elzinha descansava depois de um dia muito cansativo, já trabalhava pra dona Isaura há dois anos e nunca havia ganhado nada dela, nem quando completou 15 anos, por isso, a surpresa quando dona Isaura e seu Albano bateram no quarto com um embrulho nas mãos, uma caixa, uma surpresa, um presente. Muda e sem graça recebeu e quase chorou de emoção, dona Isaura que era a mais ansiosa, tratou logo de desembrulhar para ver a cara da presenteada e de fato era uma grande surpresa, quem poderia imaginar um presente como aquele para uma pessoa como Elzinha, até seu Albano, onde a sua única participação no presente foi liberar o dinheiro, nem imaginava o que Isaura havia aprontado para a moça, intrigado com o presente e com a cara mais passada que a própria Elzinha, perguntou:
-um microfone, pra quê?
Elzinha chegou na casa de dona Isaura quando tinha 13 pra 14 anos, chegou sozinha e determinada a trabalhar, fosse qual fosse a empreitada, precisava trabalhar para ser uma pessoa normal ou ao menos tentar ser.Dona Isaura logo de cara não gostou da idéia, era muito nova para os afazeres da casa, então, lhe deu um sonoro não.Mais Camila sua única filha acabara de dá a luz a trigêmeas e quando viu o esforço da menina para arrumar um trabalho não teve dúvida, ofereceu a função de baba, mesmo contra a vontade de D. Isaura. Elzinha agora empregada e dona do seu nariz, trabalhando duro em casa de família pra esquecer um pouco da vida dura, agora podem sonhar mesmo sem saber o que o destino poderia lhe ofertar naquela casa e com aquela família, casa essa que passaria boa parte da sua mocidade.
Dona Isaura era uma portuguesa que apesar de governar com mãos de ferro, era à frente da sua época, casada com Dr. Albano Silva há 31 anos, nunca traiu apesar de descobrir nove puladas de cerca do marido, sempre gostou de ser honesta e sempre cobrou isso de todos que moravam de baixo do seu teto, com exceção do Dr. Albano. Elzinha passava a maior parte do seu dia dentro de casa, cuidando das coisas das meninas, pouca via a rua, aliás, isso ela já conhecia muito bem, não seria novidade. Angélica, Mariane e Eliana eram três loirinhas com personalidades fortes, bem distintas como a avó, as três assim como a avó, adoravam disco music, fãs de Donna Sammer tinham o seu lp como obrigatório depois da aula e isso foi por durante um ano quase, fora isso tinha a dr Camila que era louca por mpb e os novos baianos, aos fins de semana era a vez de dona Isaura e seu Albano curtirem as musicas do passado, de modo que Elzinha foi entrando em contato com todo tipo de musica e estilos.
Seu Apolo marido de Camila viajava o mundo todo vendendo canudos para refrigerantes, sempre que chegava num país diferente procurava duas coisas: comidas e musicas típica, ou seja, sempre chegava com novidades, numa época Eliana se apaixonou por musica japonesa, foi quando Elzinha aprendeu as melodias e todos os dias depois da primeira novela, era obrigatório um show para a platéia exigente das trigêmeas, e foi assim por muito tempo. Esse contato com a musica tomou uma dimensão maior quando ela percebeu um dom inexplicável, de repente, do nada, num belo dia como outro qualquer, Elzinha foi limpar o toca disco preparação pra o show da tarde e num ato de distração quebrou a última agulha do aparelho, tudo bem, poderia resolver isso depois, mais o que fazer quando as meninas chegassem da escola, como farão para ouvir Donna Summer e o novo lp de música mexicana que o pai trouxe da última viagem?
Chegaram da escola cansadas mais foram direto pra sala de som. Mais o que fazer? Naquele dia não teriam musica, Elzinha não teve dúvidas, começou a cantar pra desfazer aqueles olhinhos cheios de choro pronto pra cair. Foi quando Elzinha soltou todo seu potencial e cantou a capela todas às musicas do lp, o mais absurdo é que a voz era idêntica, parecia se esta escutando a própria voz de Donna Summer a capela, era incrível, inacreditável como Elzinha catava tão bem e afinada sem ter nunca ter feito aulas de canto.
O dom do canto aliado ao da imitação era perfeito, logo foram em busca das possibilidades da nova artista, então tentaram Baby Consuelo, idêntica, então tentou cantar como Nara leão, ficaram espantados, experimentaram uma musica de uma cantora chinesa, foi absurda a semelhança e articulação da magrela e olha que naquela época não existia nem videocassete a prova de fogo foi Dalva de oliveira, dona Isaura estava na cozinha e conhecia bem aquela diva do rádio tentou entender por que as musicas daquele lp vinham somente com a voz sem melodia, quando chegou na sala e viu o espetáculo ficou estaticamente assombrada com o talento da corajosa, mais não falou nada pra ninguém nem pra própria Elzinha que levou seu dom adiante como se fosse resultado da agulha quebra que engoliu pra fugir do flagrante, anos depois quando conheceu o pequeno Francco que se passou a pensar que poderia ter sido uma conseqüência do seu milagre.
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